segunda-feira, 12 de março de 2012

Galo paulista em terreiro baiano



TRIBUNA DA BAHIA
Ponto de Vista
Galo paulista em terreiro baiano
Publicada: 10/03/2012  |  Atualizada: 10/03/2012
Vitor Hugo Soares
A posse do ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli, desde ontem novo Secretário de Planejamento do governo de Jaques Wagner, foi organizada por ele e seus aliados, de forma a passar mensagens inequívocas sobre política e poder no melhor estilo baiano. Engana-se, redondamente, quem pensar que alguma coisa foi feita ao acaso - no Centro Administrativo da Bahia - depois do forte temporal que caiu na véspera (8) em Salvador.
Ou simplesmente para marcar com pompa e circunstância o início da caminhada do economista da UFBA e um dos fundadores do PT, ao lado de Lula, rumo ao Palácio de Ondina nas eleiçoes de 2014. 
Ontem na capital baiana tudo foi pensado, nos mínimos detalhes, para impressionar, principalmente, aos que entendem e sabem decifrar os signos do mando e do marketing. A começar pelo local da solenidade, o auditório da Fundação Luiz Eduardo Magalhães (FLEM), ambiente criado no auge do domínio político de Antonio Carlos Magalhães, para atos e eventos de demonstração de capacidade de planejamento administrativo, força e liderança do Carlismo, preservado quase sem retoques pelo petismo dominante hoje no estado.   
Em meio a tão detalhado planejamento, o senão mais lamentado na festa ficou por conta do imponderável. Internado semana passada no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, para cuidar de uma infecção pulmonar, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (que faz tratamento de um câncer de garganta) foi obrigado a cancelar a presença, em Salvador, que estava marcada antecipadamente e “com prioridade” em sua agenda pessoal.   
Amigo e principal padrinho e avalista do nome de Gabrielli à sucessão “do galego Wagner”, Lula mandou uma carta de saudação (repleta de elogios pessoais e profissionais ao empossado, com destaques para o Pré-sal, a fundação do PT e a longa convivência do baiano, ao seu lado por dois mandatos) lida com muita emoção na festa petista no auditório da FLEM  
Recinto, diga-se a bem da verdade dos fatos jornalísticos, lotado de pesos-pesados da política, dos negócios empresariais privados, do marketing, do mundo acadêmico e dos mais elevados escalões da administração pública na Bahia e no País, a começar pela nova presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, substituta de Sérgio Gabrielli na estatal.   
Ideia primeira na fase de organização: o evento deveria assinalar, além do prestígio de Gabrielli em sua nova pretensão, o retorno reluzente do ex-presidente Lula (ao lado do afilhado político) aos palcos e palanques das grandes disputas eleitorais. Um ato, portanto, que seguramente alcançaria enorme visibilidade regional e nacional neste ano de previsíveis embates municipais históricos. De São Paulo ao Acre, de Pernambuco ao Pará. Uma prévia fundamental para saber quem tem farinha para vender na feira em 2014.   
Isso tudo em um território particularmente agradável e de bons fluidos para o ex-presidente da República (ele próprio tem assinalado este sentimento repetidas vezes na Bahia). Ontem não deu para vir: Lula mandou uma mensagem recebida com muitas palmas e algumas lágrimas. E a festa seguiu. Todo bom político, principalmente em Salvador, sabe que não adianta verberar contra o imponderável. “Toca o carro pra Lapinha”, como manda o grito de guerra dos baianos na Festa do 2 de Julho.   
Mas engana-se, outra vez, rotundamente (como dizia Leonel Brizola), quem pensar que, com a ausência de Lula, a festa baiana da posse de Gabrielli, no secretariado do governo petista, ficou sem o brilho de um astro de primeira grandeza no salão.   
E nem imaginem que o espaço petista vazio, na ausência de Lula, foi ocupado por Graça Foster, Wagner ou algum dos outros dois ansiosos postulantes que disputam, com Gabrielli, as graças do partido para concorrer como candidato governista à sucessão do “galego”: Walter Pinheiro (líder do governo Dilma no Senado, baleado na asa esta semana, depois da primeira derrota da presidente em votação no Congresso) e o deputado licenciado Rui Costa, novo chefe da Casa Civil do governo estadual (e tido por muitos “companheiros” como candidato “in pectore” do governador).   
Na verdade, além do próprio José Sérgio Gabrielli, a grande estrela da festa no Centro Administrativo da Bahia foi o deputado cassado, ex-ministro-chefe da Casa Civil de Lula e atual poderoso dirigente nacional e articulador político do PT, José Dirceu  
Foram as fotos ao seu lado “e o abraço de Zé” que quase todos disputavam, vivamente, na passagem de Dirceu pelo auditório. Os companheiros históricos e de sempre do PT na Bahia (e não são poucos); os “velhos amigos” do PC do B, a “turma da pesada na esquerda” no tempo das lutas estudantis e da clandestinidade, os neo-petistas, que há pouco tempo balançavam bandeiras do carlismo no estado, e até o “ex-ministro da ditadura” e empresário Angelo Calmon de Sá.   
“Amaldiçoado quem pensar mal dessas coisas”, diriam os franceses. 
Mas fato é fato, e foi Zé Dirceu quem veio em carne e osso a Salvador - “ele continua um pão”, suspirava uma ex-militante das passeatas baianas, presente ontem na FLEM - para dizer que o nome do partido “e das esquerdas” na Bahia, para a sucessão de Wagner é o do ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Doa em quem doer. 
A conferir

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